Bruxismo em Crianças: Estudo da UFMG Revela Impacto do Estilo Parental

Influência do Estilo Parental no Bruxismo Infantil

O bruxismo, que se caracteriza pelo apertar ou ranger de dentes, é uma condição que pode afetar até 25% das crianças brasileiras durante o sono. Essa constatação vem de uma revisão de estudos realizada em 2022, publicada por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás e da UFMG. Em um novo estudo, finalizado em 2024 no Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UFMG, foram analisados 301 crianças com idade entre quatro e sete anos, residentes em Divinópolis, Minas Gerais.

Os resultados inéditos revelaram que aproximadamente 31% das crianças apresentaram sinais de bruxismo do sono, enquanto 16% mostraram indícios de bruxismo em vigília, ou seja, enquanto estavam acordadas. Um dos focos inovadores da pesquisa foi avaliar como o estilo parental pode influenciar esses hábitos.

Os pesquisadores analisaram três estilos parentais distintos: o democrático, que equilibra controle e afeto; o autoritário, em que o controle se sobrepõe ao afeto; e o permissivo, que prioriza o afeto em detrimento do controle. A odontopediatra Letícia Moreira, autora da tese, destaca a relevância do núcleo familiar no desenvolvimento emocional das crianças. “Crianças cujos pais adotam um estilo democrático mostraram menor incidência de bruxismo”, explica. Isso pode ser atribuído ao fato de que esses pais incentivam a independência e o desenvolvimento emocional de seus filhos.

O Papel das Emoções no Bruxismo

Letícia Moreira ressalta que o bruxismo muitas vezes surge como uma resposta a pressões emocionais, como ansiedade e estresse. Assim, crianças que aprendem a lidar melhor com suas emoções podem ter menor predisposição ao bruxismo. A pesquisa ainda avaliou traços de personalidade nas crianças, incluindo psicoticismo, extroversão e neuroticismo. O psicoticismo está ligado a características como impulsividade e criatividade, enquanto a extroversão se relaciona com sociabilidade e habilidades de comunicação. Por outro lado, o neuroticismo indica uma tendência a emoções negativas, como medo e ansiedade.

Os dados coletados mostraram que níveis elevados de neuroticismo estão associados a uma maior frequência de bruxismo. “Crianças com altas taxas de neuroticismo enfrentam dificuldades em lidar com emoções como ansiedade. Isso pode levá-las a buscar alívio através do bruxismo”, observa a especialista.

Metodologia da Pesquisa e Resultados

A pesquisa envolveu questionários respondidos por familiares e cuidadores das crianças, coletando informações relevantes sobre o comportamento do bruxismo. Crianças que faziam uso de medicamentos anticonvulsivantes ou apresentavam síndromes não foram incluídas na análise. Letícia enfatiza a importância de uma abordagem multidisciplinar no cuidado da infância, que deve envolver não apenas dentistas, mas também psicólogos e outros profissionais da saúde. “A compreensão dos fatores psicológicos relacionados ao estresse e ao estilo parental é essencial para um tratamento adequado”, conclui.

A tese foi orientada pela professora Júnia Maria Cheib Serra-Negra e coorientada pela professora Isabela Almeida Pordeus, ambas do Departamento de Saúde Bucal da Criança e do Adolescente. O estudo recebeu apoio da Capes durante o doutorado da pesquisadora.

Mais Informações sobre a Pesquisa

Para aqueles que se interessam pelo tema, o novo episódio do programa “Aqui Tem Ciência” aborda a pesquisa em detalhes. A tese, intitulada “Possível bruxismo do sono e em vigília na infância: prevalência, fatores associados e análise de caminhos”, explora a relação entre estilos parentais, traços de personalidade e a gravidade do bruxismo entre as crianças. O programa é transmitido na frequência 104,5 FM e está disponível em plataformas de áudio como Spotify e Amazon Music, trazendo à tona pesquisas da UFMG que abrangem diversas áreas do conhecimento.