Mudanças na rotina urbana de Belo Horizonte revelam novas oportunidades para trabalhadores autônomos
Com a crescente adesão ao trabalho de entregas por marketplaces, muitos brasileiros estão deixando o emprego formal para se tornarem entregadores. Em Belo Horizonte, a expansão dessas atividades tem gerado lucros que podem alcançar R$ 12 mil mensais, jornadas de trabalho flexíveis e um impacto significativo nos dados de rendimento informal. O recente levantamento publicado pelo O Tempo destaca como essa nova modalidade de trabalho está mudando a paisagem econômica da capital mineira.
A cena se tornou comum nas ruas de Belo Horizonte: entregadores sem identificação específica pontuam a rotina da cidade, realizando entregas rápidas em residências e condomínios. O que antes era monopolizado pelos Correios agora se transformou em uma alternativa viável para autônomos que se cadastraram em plataformas como Amazon, Mercado Livre e Shopee.
Um exemplo emblemático dessa mudança é Jaderson Barbosa dos Santos, de 43 anos. Após duas décadas atuando como motorista com carteira assinada, ele decidiu se tornar um entregador autônomo da Amazon há aproximadamente um ano. Jaderson investiu na compra de um veículo próprio e hoje seus rendimentos mensais podem chegar a R$ 12 mil, um valor equivalente a três vezes o que ele recebia como CLT.
Com uma rotina que envolve a realização de 30 a 60 entregas diárias, Jaderson considera a nova atividade sua única fonte de renda. Ele relata que mesmo com despesas mensais na ordem de R$ 2.500 para abastecimento, seus ganhos líquidos ainda superam o que recebia em seu antigo emprego. Para ele, a liberdade financeira que conquistou justificou a decisão de deixar o emprego formal, antecipando um plano que previa essa transição apenas aos 45 anos.
Os dados que sustentam essa realidade são corroborados por informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada em 3 de dezembro, o único grupo demográfico que experimentou um aumento no rendimento médio em 2024 foram os homens em ocupações informais, com uma alta de 2,2%. Em contrapartida, mulheres que trabalham em empregos informais apresentaram uma queda média de 1,2%. No setor formal, os homens enfrentaram um declínio de 0,5%, enquanto as mulheres sofreram uma redução ainda mais acentuada, de 5,3%.
Esse levantamento considera diversas ocupações informais, que incluem empregados e trabalhadores domésticos sem carteira assinada, autônomos e empregadores sem contribuições previdenciárias. Apesar dos desafios financeiros, Jaderson enfatiza que a falta de um chefe direto e a flexibilidade de horários são fatores decisivos para sua escolha. “Ter a liberdade de parar ou continuar a trabalhar sem penalidades foi fundamental para a minha decisão”, afirma.
Por outro lado, a experiência de Augusto Cruz, de 34 anos, que atua como entregador da Shopee desde 2023, demonstra que o cenário está passando por mudanças. Ele realiza entre 100 e 120 entregas diárias, mas observa que a concorrência crescente está diminuindo o número de corridas disponíveis. “O número de entregadores aumentou, e isso afetou diretamente nossos ganhos”, explica Augusto. Por conta disso, ele complementa sua renda com corridas por aplicativo, buscando equilibrar suas despesas mensais.
A Shopee, que atualmente conta com 45 mil motoristas parceiros em todo o Brasil, destaca que 80% da renda dos entregadores provém da plataforma. Tiago Freddi, head de logística da empresa, menciona que muitos motoristas têm conseguido adquirir veículos, imóveis e até contratar planos de saúde, além de investir em educação.
Além de servir como uma fonte de renda principal, as entregas têm atraído casais como Flora Fonseca, de 27 anos, e João Paulo Marsicano, de 28 anos, que trabalham juntos no Mercado Livre. Com aproximadamente três meses de atividade, o casal ganha cerca de R$ 2 mil mensais, optando por rotas mais curtas que possibilitam uma jornada de quatro horas diárias.
Para se tornarem entregadores, as plataformas exigem a apresentação de Carteira Nacional de Habilitação (CNH) categoria B, além de veículos em bom estado e a formalização como Microempreendedor Individual (MEI). As regras podem variar entre as empresas e estão disponíveis nos sites oficiais.
