A Mobilização que Fez a Diferença
No dia 19 de dezembro, a Rua da Bahia em Belo Horizonte foi palco de uma intensa mobilização popular. Pais, alunos, profissionais da educação e membros do Movimento Luta de Classes (MLC) se reuniram por mais de duas horas em defesa da Escola Municipal Paulo Mendes Campos (EMPMC) e do ensino integral. Este ato foi uma resposta contundente à política higienista promovida pela Prefeitura, sob a liderança do prefeito Álvaro Damião e da secretária de Educação, Natália Araújo.
Embora a comunidade tenha celebrado uma confirmação verbal sobre a continuidade da escola — considerada por muitos como uma “vitória nossa” —, é importante destacar que a administração ainda não forneceu garantias oficiais por escrito. Essa situação evidencia uma tática da administração pública: ceder temporariamente no discurso para ganhar tempo e evitar a mobilização popular, enquanto mantém seu plano de desmonte da educação pública.
A Luta por Direitos e a Denúncia do Desmonte
Em entrevista ao Jornal A Verdade, Pedro Veras, pai de uma aluna da EMPMC, destacou a importância do projeto pedagógico de educação integral, que oferece 10 horas diárias de atividades, incluindo robótica e capoeira. Para ele, essa abordagem é fundamental para a sustentabilidade das famílias trabalhadoras, especialmente as mulheres que enfrentam a dupla jornada. Ao encerrar essas vagas, a Prefeitura condena essas mulheres a situações de vulnerabilidade, onde a informalidade e o desemprego se tornam a norma.
Pedro também chamou a atenção para um aspecto preocupante da política educacional: a tentativa de deslocar estudantes de áreas vulneráveis, como o Morro do Papagaio e Vila Estrela, para escolas em regiões periféricas com infraestrutura precária. Ele argumenta que essa estratégia não é um simples erro de gestão, mas uma parte de um plano maior de higienização social, que visa transformar o centro da cidade em um espaço exclusivo para a elite.
A Crítica à Burocracia e a Força da Comunidade
A experiência de Pedro Veras com a Secretaria de Educação (SMED) revela a face autoritária da burocracia. Em sua narrativa, ele menciona a falta de respeito no atendimento, com mães sendo ignoradas e enfrentando longas esperas sem receber respostas adequadas. “Recebemos a porta na cara”, diz Pedro, sublinhando a ineficiência e a exclusão presentes no sistema educacional.
Foi somente através da mobilização nas ruas que a Prefeitura finalmente sentiu a pressão da comunidade. A ação direta dos manifestantes provou ser mais eficaz do que meses de tentativas de diálogo com as autoridades, evidenciando que o ataque à educação é também uma ofensa aos trabalhadores da educação, que enfrentam a precarização de seus empregos.
Um Alerta para a Luta Contínua
A vitória na EMPMC acontece em um cenário mais amplo de ataques contra os direitos da população. A Escola POEINT, que atendia a comunidade do Barreiro, teve suas portas fechadas pela mesma administração, ilustrando um padrão de desmantelamento da educação pública de qualidade. A resistência em Paulo Mendes Campos interrompeu momentaneamente esses planos, mas a luta precisa seguir adiante.
Um Reflexo Nacional e a Necessidade de Organização
A situação em Belo Horizonte é um reflexo do avanço das políticas neoliberais em nível nacional, onde o foco em ajustes fiscais e privatizações resulta no sucateamento do ensino público. O fechamento de escolas integrais, como parte do Novo Ensino Médio, busca transformar a educação em um produto e não em um direito acessível a todos.
Durante a formatura dos alunos da EMPMC, o diretor Júnior fez sua parte ao garantir a continuidade do sexto ano e a permanência dos estudantes das comunidades vulneráveis. Entretanto, essa é apenas uma parte da luta por uma educação pública e inclusiva. Como Pedro Veras ressalta, a luta deve continuar até que as demandas da comunidade sejam formalmente atendidas pela Secretaria de Educação.
Convocação à Ação
O Movimento Luta de Classes convoca todos os trabalhadores, estudantes e membros da comunidade a se unirem em defesa da educação pública, gratuita e integral. A vitória parcial na EMPMC e as ações nas ruas demonstram que apenas a organização e a luta coletiva podem garantir conquistas. Cada escola mantida representa uma conquista do povo; cada rua ocupada, um exercício de poder popular. A verdadeira vitória acontecerá quando o poder político estiver nas mãos dos trabalhadores.
